segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

COMO ESCOLHO UMA ACADEMIA PRA MEU FILHO...

COMO ESCOLHO UMA ACADEMIA PARA MEU FILHO


         Os pais devem se preocupar com determinados aspectos, quando resolvem colocar seus filhos em uma escola de artes marciais.
A primeira dúvida que ocorre é: qual a arte marcial – Karatê, Judô, Jiu-Jitsu, Taekwon-Do? Quando a própria criança não faz sua escolha, vale a pena lembrar que não existe uma arte marcial melhor que a outra, existem instrutores mais ou menos qualificados quanto à capacidade de ensinar crianças.
Partindo deste princípio, a escolha pode ser confirmada ou “aprovada”, baseada em observações simples que qualquer pessoa deve fazer ao entrar em uma escola de modalidade de combate.
Pais e filhos devem assistir juntos uma aula antes da matrícula e, se possível, a criança deve participar de uma aula experimental. É muito importante conversar com o instrutor e com o responsável pela escola a respeito das aulas, da modalidade ensinada, da formação e qualificação dos instrutores e da filosofia da escola. Certifique-se que a escola realmente se preocupa com a turma infantil.
Outro aspecto muito importante diz respeito ao condicionamento físico – criança até a puberdade (10 a 13 anos) estão em fase de crescimento e todo o seu metabolismo está voltado para este crescimento corporal. Por essa razão, as crianças não devem ser submetidas à esforços físicos muito grandes, nem a grandes descargas de peso ou torções em suas articulações.
As conseqüências poderão aparecer imediata ou tardiamente sob a forma de dores, desvios posturais, fraturas, artrites e até uma diminuição do crescimento da criança.



A observação começa antes da aula propriamente dita. Observe:

- Como você foi atendido ao chegar na escola? Com educação, indiferença? – a forma de tratamento deve condizer com a proposta da escola.
- Qual o aspecto da escola? Parece limpa ou há sangue nas paredes? Isto também demonstra a proposta da academia.
- As armas expostas apresentam perigo às crianças? Há extintores de incêndio? A segurança no prédio, inclusive quanto às janelas (grade) e portas da rua, podem ser dicas da preocupação da escola em relação às crianças.
- Antes da aula começar, como estão os alunos? Eles correm agitados? Tem um semblante de ordem? Isso mostra se as crianças realmente aprenderam o que é ensinado, mostrando a eficiência do professor.
- Durante a aula, como se trata a questão da disciplina? As crianças tratam o instrutor com respeito? E entre elas?
- Adultos e crianças participam da mesma aula ou há turmas diferentes? Em turmas reunindo crianças e adultos, as crianças têm tratamento especial ou fazem exatamente os mesmos exercícios que os adultos? É importante frisar que as crianças devem ser tratadas diferentemente dos adultos, elas necessitam de exercícios especiais, atividades adaptadas à sua faixa etária. Devem ter uma abordagem lúdica, isto é, elas merecem atividades que envolvam jogos e brincadeiras próprias às crianças, mesmo se tratando de uma arte marcial.
- Ao final da aula, as crianças parecem ter gostado? Essas observações são vitais para sabermos se uma arte marcial, tão importante para a formação de um indivíduo, será devidamente ensinada e ainda, se será adequada para um ser em fase de formação da personalidade.


            O que ensinar?

            Se não forem levadas em consideração as características fisiológicas estruturais e psicológicas da criança, em cada uma das diversas faixas etárias, a prática e o treinamento do Karatê poderão oferecer riscos à mesma.
            O risco de lesões e os problemas posturais que poderão ocorrer em função da prática inadequada ou da sobrecarga exagerada em relação à faixa etária.
            As respostas fisiológicas da criança, dependendo da solicitação física, são diferentes do adulto.
            De acordo com o estudo do desenvolvimento psicomotor da criança, aconselha-se que as atividades de iniciação sejam aplicadas de forma lúdica e bastante generalizadas em termos de movimentos básicos do Karatê.
            A especialização do movimento, bem como as atividades pré-competitivas, devem iniciar-se por volta de 12 anos, enquanto que a competição propriamente dita, com enfoque pra o rendimento atlético só deve começar por volta dos 15-16 anos. A competição precoce, com grande exigência de performance, pode ter implicações, principalmente psicológicas, comprometendo o futuro atlético do karateca.
            A conclusão geral é de que o Karatê pode ser praticado a partir da primeira idade escolar, desde que as atividades, sejam adequadas à faixa etária enfocada, respeitando-se os limites fisiológicos, estruturais e psicológicos da criança. Assim sendo, o conhecimento desse processo de interação entre a prática desportiva e o crescimento e desenvolvimento da criança  permitirá que o professor programe suas aulas dentro de uma progressão pedagógica adequada, à uma formação harmônica e integral karateca.
           




Aspectos Fisiológicos

O volume e intensidade das atividades nas aulas de Karatê devem adequar-se à capacidade metabólica (reações, bioquímicas do organismo) da criança. Segundo Nadeav, a capacidade anaeróbica da criança (capacidade para realizar atividades de grande intensidade) até o período pós-pubertário (14-15 anos) parece menor do que a capacidade anaeróbica do adulto. Astrand & Rodahl citam uma pesquisa onde um menino de 8 anos só poderia aumentar seu metabolismo básico (energia mínima despendida para manter as funções vitais) 9,4 vezes durante uma corrida máxima de 5 minutos, enquanto que um rapaz de 17 anos poderia obter um aumento de 13,5 vezes.
O organismo da criança parece mais adaptado ao metabolismo aeróbico, onde existe um equilíbrio entre o consumo e a absorção de oxigênio, que ocorre nas atividades de baixa intensidade. Portanto, as atividades de grande intensidade como, por exemplo, os treinamentos específicos para o desenvolvimento da resistência anaeróbica (treinamento de luta simulada – um contra todos) devem ser evitadas nas faixas etárias menores.
No período pré-pubertário (até 14 anos) o desenvolvimento da força na criança é bastante limitado. Isto se deve a baixa taxa de testosterona (hormônio sexual masculino), responsável pelo aumento acentuado da massa muscular nos meninos após a puberdade. Esse é um dos motivos que contra-indica as atividades específicas para o desenvolvimento da força, uma vez que os fatores determinantes dessa qualidade física ainda são bastante limitados na criança.


Aspectos Estruturais

Os ossos da criança, devido à maior proporção de matérias orgânicas relativamente moles, são mais flexíveis. Mas, a sua resistência à flexão e pressão é diminuída, baixando a capacidade do conjunto do sistema esquelético suportar sobrecarga, segundo Weineck.
O tecido cartilaginoso e as funções ainda são ossificadas estão sujeitos à danos, por pressão e tensões fortes. Hellemann chama a atenção para o perigo de lesões no aparelho de sustentação e locomoção das crianças, decorrentes da sobrecarga exageradas. As estruturas que, estão mais sujeitas a esses incidentes são os chamados centros de crescimento: os discos epifisários, localizados próximo às extremidades dos ossos longos e as inserções tendinosas, nas apófises (saliências e um osso).
A prática de determinadas técnicas num sistema de repetição, durante longos períodos de treinamento, considerando que a criança está em constante crescimento, pode provocar um desenvolvimento assimétrico dos segmentos corporais, bem como possíveis desvios posturais. O professor deve considerar todos esses fatores ao selecionar técnicas e demais atividades a serem desenvolvidas no seu programa de aulas. Num programa de iniciação ao Karatê parece conveniente evitarmos aquelas técnicas, assim como as demais atividades que, porventura, venha sobrecarregar o aparelho músculo-esquelético. Os uchikomis, exercícios de fixação da aprendizagem, devem ser executados sempre pelos dois lados (esquerdo e direito) prevenindo, assim, possíveis desvios da coluna e o desenvolvimento assimétrico dos segmentos corporais.


Aspectos Psicológicos

A criança que foi exposta cedo demais a uma atividade para a qual não tem maturidade pode perder seu entusiasmo natural por ela, quando atingir o nível de desenvolvimento para tal” (hilgard & Atkinson).
Como a estrutura física, a psicológica se processa em estágios de desenvolvimento onde a relação da criança com o meio (experiências vividas) exerce uma influência significativa. Por isso, os fatores que precedem as confrontações entre a criança e a competição (a tensão, a expectativa, a ansiedade), assim como os que se seguem ao resultado (satisfação ou frustração) terão influências importantes nesse processo. Com base nessas considerações, suspeita-se que uma exigência muito forte, quanto a “performance” dos pequenos atletas nos treinamentos precoces, tem provocado a perda do seu entusiasmo pelo esporte quando atingem a idade adequada. É a chamada “síndrome de saturação”.
É preciso que não se confunda a iniciação com treinamento de Karatê. A introdução aos fundamentos da modalidade, desde que respeitados os limites da criança, pode se processar desde as primeiras faixas etárias (6-7 anos). Já o treinamento de judô para competição (preparação técnica, física, tática e psicológica) deve ser reservado às faixas etárias pós-púberes (14-15 anos). O trabalho de iniciação deve ter por objetivo estruturar o futuro atleta em todos os seus aspectos criando, assim, as condições necessárias para o desenvolvimento pleno de todas as suas potencialidades atléticas.

SENSEI PEDRO MELO

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