COMO ESCOLHO UMA ACADEMIA PARA MEU FILHO
Os pais devem se preocupar com determinados aspectos, quando resolvem colocar seus filhos em uma escola de artes marciais.
A primeira dúvida que ocorre é: qual a arte marcial – Karatê, Judô, Jiu-Jitsu, Taekwon-Do? Quando a própria criança não faz sua escolha, vale a pena lembrar que não existe uma arte marcial melhor que a outra, existem instrutores mais ou menos qualificados quanto à capacidade de ensinar crianças.
Partindo deste princípio, a escolha pode ser confirmada ou “aprovada”, baseada em observações simples que qualquer pessoa deve fazer ao entrar em uma escola de modalidade de combate.
Pais e filhos devem assistir juntos uma aula antes da matrícula e, se possível, a criança deve participar de uma aula experimental. É muito importante conversar com o instrutor e com o responsável pela escola a respeito das aulas, da modalidade ensinada, da formação e qualificação dos instrutores e da filosofia da escola. Certifique-se que a escola realmente se preocupa com a turma infantil.
Outro aspecto muito importante diz respeito ao condicionamento físico – criança até a puberdade (10 a 13 anos) estão em fase de crescimento e todo o seu metabolismo está voltado para este crescimento corporal. Por essa razão, as crianças não devem ser submetidas à esforços físicos muito grandes, nem a grandes descargas de peso ou torções em suas articulações.
As conseqüências poderão aparecer imediata ou tardiamente sob a forma de dores, desvios posturais, fraturas, artrites e até uma diminuição do crescimento da criança.
A observação começa antes da aula propriamente dita. Observe:
- Como você foi atendido ao chegar na escola? Com educação, indiferença? – a forma de tratamento deve condizer com a proposta da escola.
- Qual o aspecto da escola? Parece limpa ou há sangue nas paredes? Isto também demonstra a proposta da academia.
- As armas expostas apresentam perigo às crianças? Há extintores de incêndio? A segurança no prédio, inclusive quanto às janelas (grade) e portas da rua, podem ser dicas da preocupação da escola em relação às crianças.
- Antes da aula começar, como estão os alunos? Eles correm agitados? Tem um semblante de ordem? Isso mostra se as crianças realmente aprenderam o que é ensinado, mostrando a eficiência do professor.
- Durante a aula, como se trata a questão da disciplina? As crianças tratam o instrutor com respeito? E entre elas?
- Adultos e crianças participam da mesma aula ou há turmas diferentes? Em turmas reunindo crianças e adultos, as crianças têm tratamento especial ou fazem exatamente os mesmos exercícios que os adultos? É importante frisar que as crianças devem ser tratadas diferentemente dos adultos, elas necessitam de exercícios especiais, atividades adaptadas à sua faixa etária. Devem ter uma abordagem lúdica, isto é, elas merecem atividades que envolvam jogos e brincadeiras próprias às crianças, mesmo se tratando de uma arte marcial.
- Ao final da aula, as crianças parecem ter gostado? Essas observações são vitais para sabermos se uma arte marcial, tão importante para a formação de um indivíduo, será devidamente ensinada e ainda, se será adequada para um ser em fase de formação da personalidade.
O que ensinar?
Se não forem levadas em consideração as características fisiológicas estruturais e psicológicas da criança, em cada uma das diversas faixas etárias, a prática e o treinamento do Karatê poderão oferecer riscos à mesma.
O risco de lesões e os problemas posturais que poderão ocorrer em função da prática inadequada ou da sobrecarga exagerada em relação à faixa etária.
As respostas fisiológicas da criança, dependendo da solicitação física, são diferentes do adulto.
De acordo com o estudo do desenvolvimento psicomotor da criança, aconselha-se que as atividades de iniciação sejam aplicadas de forma lúdica e bastante generalizadas em termos de movimentos básicos do Karatê.
A especialização do movimento, bem como as atividades pré-competitivas, devem iniciar-se por volta de 12 anos, enquanto que a competição propriamente dita, com enfoque pra o rendimento atlético só deve começar por volta dos 15-16 anos. A competição precoce, com grande exigência de performance, pode ter implicações, principalmente psicológicas, comprometendo o futuro atlético do karateca.
A conclusão geral é de que o Karatê pode ser praticado a partir da primeira idade escolar, desde que as atividades, sejam adequadas à faixa etária enfocada, respeitando-se os limites fisiológicos, estruturais e psicológicos da criança. Assim sendo, o conhecimento desse processo de interação entre a prática desportiva e o crescimento e desenvolvimento da criança permitirá que o professor programe suas aulas dentro de uma progressão pedagógica adequada, à uma formação harmônica e integral karateca.
Aspectos Fisiológicos
O volume e intensidade das atividades nas aulas de Karatê devem adequar-se à capacidade metabólica (reações, bioquímicas do organismo) da criança. Segundo Nadeav, a capacidade anaeróbica da criança (capacidade para realizar atividades de grande intensidade) até o período pós-pubertário (14-15 anos) parece menor do que a capacidade anaeróbica do adulto. Astrand & Rodahl citam uma pesquisa onde um menino de 8 anos só poderia aumentar seu metabolismo básico (energia mínima despendida para manter as funções vitais) 9,4 vezes durante uma corrida máxima de 5 minutos, enquanto que um rapaz de 17 anos poderia obter um aumento de 13,5 vezes.
O organismo da criança parece mais adaptado ao metabolismo aeróbico, onde existe um equilíbrio entre o consumo e a absorção de oxigênio, que ocorre nas atividades de baixa intensidade. Portanto, as atividades de grande intensidade como, por exemplo, os treinamentos específicos para o desenvolvimento da resistência anaeróbica (treinamento de luta simulada – um contra todos) devem ser evitadas nas faixas etárias menores.
No período pré-pubertário (até 14 anos) o desenvolvimento da força na criança é bastante limitado. Isto se deve a baixa taxa de testosterona (hormônio sexual masculino), responsável pelo aumento acentuado da massa muscular nos meninos após a puberdade. Esse é um dos motivos que contra-indica as atividades específicas para o desenvolvimento da força, uma vez que os fatores determinantes dessa qualidade física ainda são bastante limitados na criança.
Aspectos Estruturais
Os ossos da criança, devido à maior proporção de matérias orgânicas relativamente moles, são mais flexíveis. Mas, a sua resistência à flexão e pressão é diminuída, baixando a capacidade do conjunto do sistema esquelético suportar sobrecarga, segundo Weineck.
O tecido cartilaginoso e as funções ainda são ossificadas estão sujeitos à danos, por pressão e tensões fortes. Hellemann chama a atenção para o perigo de lesões no aparelho de sustentação e locomoção das crianças, decorrentes da sobrecarga exageradas. As estruturas que, estão mais sujeitas a esses incidentes são os chamados centros de crescimento: os discos epifisários, localizados próximo às extremidades dos ossos longos e as inserções tendinosas, nas apófises (saliências e um osso).
A prática de determinadas técnicas num sistema de repetição, durante longos períodos de treinamento, considerando que a criança está em constante crescimento, pode provocar um desenvolvimento assimétrico dos segmentos corporais, bem como possíveis desvios posturais. O professor deve considerar todos esses fatores ao selecionar técnicas e demais atividades a serem desenvolvidas no seu programa de aulas. Num programa de iniciação ao Karatê parece conveniente evitarmos aquelas técnicas, assim como as demais atividades que, porventura, venha sobrecarregar o aparelho músculo-esquelético. Os uchikomis, exercícios de fixação da aprendizagem, devem ser executados sempre pelos dois lados (esquerdo e direito) prevenindo, assim, possíveis desvios da coluna e o desenvolvimento assimétrico dos segmentos corporais.
Aspectos Psicológicos
“A criança que foi exposta cedo demais a uma atividade para a qual não tem maturidade pode perder seu entusiasmo natural por ela, quando atingir o nível de desenvolvimento para tal” (hilgard & Atkinson).
Como a estrutura física, a psicológica se processa em estágios de desenvolvimento onde a relação da criança com o meio (experiências vividas) exerce uma influência significativa. Por isso, os fatores que precedem as confrontações entre a criança e a competição (a tensão, a expectativa, a ansiedade), assim como os que se seguem ao resultado (satisfação ou frustração) terão influências importantes nesse processo. Com base nessas considerações, suspeita-se que uma exigência muito forte, quanto a “performance” dos pequenos atletas nos treinamentos precoces, tem provocado a perda do seu entusiasmo pelo esporte quando atingem a idade adequada. É a chamada “síndrome de saturação”.
É preciso que não se confunda a iniciação com treinamento de Karatê. A introdução aos fundamentos da modalidade, desde que respeitados os limites da criança, pode se processar desde as primeiras faixas etárias (6-7 anos). Já o treinamento de judô para competição (preparação técnica, física, tática e psicológica) deve ser reservado às faixas etárias pós-púberes (14-15 anos). O trabalho de iniciação deve ter por objetivo estruturar o futuro atleta em todos os seus aspectos criando, assim, as condições necessárias para o desenvolvimento pleno de todas as suas potencialidades atléticas.
SENSEI PEDRO MELO
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